Chapter 14 - Tselinoyarsk

por **Shadow** Ter Jun 19, 2012 2:42 pm

Estava mergulhado em tons de verde e castanho da floresta. Passei a mão pelo solo puxando alguma terra. Estava húmida. Se estava assim numa área coberta por árvores, onde a água da chuva mal devia tocar, assumi que nas clareiras podiam haver poços lamacentos. Olhei em volta. Não haviam sinais de presença humana naquela área, mas pequenos rastos de animais eram visíveis. Alguns ratos, um sapo, pelo aspecto da pegada, uma raposa, alguns veados e haviam vários rastos de serpentes. Tinham sido longas horas de viagem até ali, em jejum. Não podíamos comer antes de um HALO jump(High Altitude Low Opening jump). Decidi procurar por comida.
O veado seria a minha primeira escolha. Bambi na espetada. Mas as pegadas eram velhas e já se poderiam encontrar bastante longe daquele lugar. Os ratos não eram aconselháveis visto a quantidade de doenças que podiam transmitir. As pegadas do sapo eram as mais frescas, devia ter pulado quando aterrei, mas os sapos não eram propriamente fáceis de apanhar. O mesmo se aplicava às raposas. Seriam cobras. Estas não tive de procurar muito. Alguns pedaços de erva moviam-se, à medida que as serpentes rastejavam através deles. Os meus olhos moveram-se para cima e havia uma, enrolada num ramo, a olhar fixamente para mim, a analisar o novo rastejante da zona. Sorri-lhe.
- Come to daddy... - mostrava-me bastante sorridente perante a minha refeição. De alguma maneira, o animal pressentiu a minha fome e começou a rastejar dali para fora. Saquei a faca da bainha e atirei-a, em direcção à cobra que circulava em torno do ramo, tentando chegar ao tronco. Acertei-lhe em cheio na cabeça. Os músculos da cobra cederam e relaxaram. Desenrolaram-se e a cobra ficou paralela ao tronco, presa na árvore, pela faca.
Aproximei-me e puxei a faca, trazendo a serpente na sua lâmina.
- Thai Cobra... O que é que esta merda faz no Cazaquistão?
- Snake, é altura de conheceres a nossa paramédica - disse o Major.
- Hello, Snake. - disse uma voz feminina.
- Hey there...
- Ela irá ajudar-te com qualquer problema que tenhas relacionado com a tua saúde, incluindo a tua alimentação.
- Bem, eu não tenho problemas em comer isto... Isto apenas não é daqui...
- Durante a Guerra Fria, várias espécies foram trazidas para Tselinoyarsk para investigação. É possível que tenham fugido e eventualmente se tenham reproduzido.
- We always end up there, right?
- Where?
- Cold War. Nevermind...
Retirei a faca da cabeça e depois removi a última. Separei a carne do esqueleto e devorei-a, crua.
- Tasty...
- Estás a comer isso cru? - perguntou a paramédica, chocada.
- Claro... Uma fogueira não seria muito inteligente a esta hora do dia...
Retirei a minha pistola do suporte. Agarrava-a com a mão direita e a faca com a mão esquerda, mantendo a segunda debaixo da primeira, com a lâmina apontada para baixo. Comecei a caminhar para o norte. Deparei-me imensas vezes com animais, principalmente cobras. Andei através de alguns quilómetros de floresta até que finalmente ouvi algo. Deitei-me na relva e retirei os binóculos. Observei a clareira à minha frente. Um, dois, três... Farda do exército russo... Foquei-me nas armas. Eram da Abstergo. Estava no sítio certo.
- Major Zero, contacto visual com o inimigo. Três unidades. Exército russo, mas com equipamento Abstergo.
- Dear god... É mais grave do que pensei. Eles já fizeram acordos com o próprio governo.
- Quais são as ordens?
- As mesmas... o teu objectivo é não seres detectado. Evita confrontos.
- Yes, sir.
Analisei, atentamente, as rondas dos soldados. Eram praticamente perfeitas. Não havia caminho alternativo, nunca se perdiam de vista uns aos outros. Precisava de uma distracção. Nesse momento, tive a sensação que tudo naquela missão estava relacionado a cobras. Uma movia-se a centímetros de mim. Movi lentamente a mão e accionei o mecanismo da lâmina retráctil, penetrando-lhe a cabeça. Retraí a lâmina e peguei na cobra. Atirei-a com bastante força para perto de um dos soldados.
- Chertovski zmyeĭ!(Cobras do ca****o) - gritou ele, pulando do susto.
- Maricas... - troçou o outro, enquanto-se aproximava.
Aproveitei a oportunidade e circulei à volta deles, despercebido. Mas ainda havia o terceiro soldado. Corri, o mais silenciosamente que consegui e pulei-lhe em cima, fazendo-o cair e empurrando-lhe a cabeça contra o chão, brutalmente. Ficou inconsciente. Apressei-me a sair dali e a prosseguir o meu caminho. A manhã seguiu-se de alguns pequenos encontros com guardas e de pequenas distracções para passar despercebido. Por fim, avistei a base. Depois de lá entrar, não teria descanso, por isso parei para fumar um charuto. Tentei esconder-me o melhor possível, de maneira a conseguir ter a base no meu campo de visão, para tentar delinear um plano enquanto fumava. Mantive a minha faca na mão esquerda. Queimei a ponta do charuto, com um isqueiro e meti-o na boca. Puxei o fumo para a garganta, senti o odor rico e o sabor suave. E o fumo espesso era quase sensual... Senti algo nas minhas costas, uma arma.
- Any last wishes, american pig? - disse um homem, atrás de mim.
- Can I finish my cigar?
- Sure, dog! You'll die soon enough.
Expirei o fumo e atirei o charuto para o alto. Rodopiei rapidamente perfurando-lhe a jugular com a faca. O homem caiu no chão, esvaindo-se em sangue. Estendi a mão e apanhei o charuto, na sua queda. Voltei a levá-lo à boca.
- What was that you're saying? I'm sorry, I just couldn't hear you over how awesome I am.
Acabei de fumar o meu charuto e escondi o corpo. Dirigi-me então para a base.
- Freeze! - ordenei, apontado a arma à cabeça de um dos sentinelas - Cinco segundos para me dizeres o que se passa aqui e como posso entrar na base.
- Eu não...sei...de nada-a-a - gaguejou.
- Quatro, três...
- Podes entrar no primeiro nível... c-c-com o meu ca-ca-cartão - disse - Por favor, não me magoes... sou só um guarda.
- Spacibo! - puxei o violentamente contra uma árvore e deixei-o inconsciente. Revistei-o e encontrei o cartão.
Procurei pelos restantes guardas e deparei-me com algo estranho. Estavam todos no chão, abatidos. Vi um vulto negro a mover-se e depois um branco e de repente estava cercado.
- WTF? - vários indivíduos encapuçados rodeavam-me. Um estava prestes a atacar quando o líder, um homem de cabelos longos, que não podiam ser contidos pelo capuz, vestido de preto e vermelho, o impediu.
- Eu conheço-o...
- Conheces-me? - olhei-o de uma ponta à outra. Quanto mais pensava no assunto, mais familiar o seu aspecto me parecia, mas continua sem ter a menor ideia de quem ele seja.
- É ele... O soldado da Abstergo...
- São todos eles - disse um dos indivíduos encapuçados.
- Não, tolo... Este era da base americana, do deserto... O que... - Parou por um segundo e depois disse - Ó meu deus, ele é o soldado que desapareceu na luz dourada com o Noctis.
- Onde é que está o Noctis? - questionou um outro homem, furioso.
- As far as I know, dead...
O homem furioso, extraiu a suas lâminas e ia saltar-me em cima, mas foi parado pelos outros e atirado contra o chão. Mantinham-me em posição defensiva, com a arma na mão direita e a faca na mão esquerda.
- Só há uma maneira de saber o que se passou - constatou o líder do grupo. Meteu as mãos no bolso e tirou algo brilhante, dourado.
O meu cérebro derreteu-se em dor e deixei cair um dos joelhos no chão, ainda em formação defensiva. Senti o dourado a passar por mim tão rápido como os bits no VR Training, talvez mais rápido ainda e subitamente as memórias daquele dia no deserto começaram a voltar...