[Corrupção] Capitulo 1 - O Imortal

Corrupção
Capitulo #1 - O Imortal

Bem-vindos à cidade maravilhosa, onde as ilusões são mais fortes que o calor e o sol e a cidade esconde toda a sua porcaria por de trás das suas praias e de outros locais e objectos que servem apenas para se mostrarem, para iludirem os outros. Infelizmente não sou uma daquelas pessoas que se deixam iludir com o belo tempo e os locais de importância turística, já conheço este lugar há já algum tempo e não tem nada de bonito acerca dele. Observo as ruas através da janela do carro de patrulha com o meu parceiro na luta contra o crime, Anderson Machado, nós dirigíamo-nos às favelas, a sede dos 90% dos criminosos que andavam por Rio de Janeiro e a única razão para isso era um negócio que nós tínhamos por tratar. Chegamos ao nosso destino, Anderson não parava de fumar, parecia nervoso. O cenário era dramático, demonstrava uma outra vida que outros não tinham qualquer ideia, rapazes com as caras tapadas, que provavelmente nem sequer tinham 12 anos, andavam com uma arma na mão e uns sacos noutra, mesmo sabendo que eu e Anderson somos policias, eles sabiam que se nós tentássemos qualquer coisa, morríamos com perfurados por balas ao longo do nosso corpo, no mesmo cenário brincavam crianças e uma mãe dava banho aos seus filhos despejando a água com uma panela em cima delas, um velho sentava-se ao lado dos traficantes, outros jogavam à bola descalços no cenário de lama, mesmo sem espaço, andavam pelas ruas com a bola. Eu também tirei um cigarro, acendi-o e inalei o seu fumo. Virei-me para o Anderson, ainda estávamos dentro do carro.
– Tás preparado?
– Sim, acho que mais preparado para isto não poderia estar, mas eu estou mais preocupado contigo.
– Vai ser fácil! – Sorri para ele, eu estava descontraído e queria que ele se acalmasse.
– Sabes quantas pessoas estão lá dentro? – Ele apontou para os miúdos armados – E eu tenho a certeza que aqueles tipos não são boa notícia.
– Eu consigo fazer isto, não te preocupes. Consigo ser mais rápido que uns miúdos com mania sem experiência.
– Cara, eles são apenas miúdos!
– No entanto já não fazem mais que servir de lixo.
– Mas ainda são miúdos! Além disso, isto está muito guardado! – Anderson olhou em sua volta – Devem ser uns 7 que nos estão a rodear, por isso não tentes algo estúpido e deixa-me ser eu a falar. Está bem?
Apenas acenei a cabeça como sinal de compreensão, mas isso não escondia a minha indignação por ele rebaixar a mim e à minha técnica com armas de fogo, ia-lhe provar que ele estava errado, eu iria conseguir eliminar aquelas baratas.

O carro estava estacionado em frente à porta de ferro que servia de entrada e saída do edifício onde se encontrava o nosso obstáculo, esta porta assemelhava-se às portas da solitária da prisão, tinha uma pequena janela que abria e fechava para ver se estava tudo bem, um homem abriu a janela e por essa janela viam-se os seus olhos escuros. Olhou para mim, para o Anderson e para o carro de patrulha. Um silêncio esquisito seguiu-se, dei uma cotovelada no Anderson, para ele acordar para a vida.
– Ah sim! – Apercebeu-se ele - Nós viemos em nome de Carlos Uganda, estamos aqui para ver Ubunto.
Os olhos do homem pararam de se ver em frente à janela mas depois voltou a fechar a pequena janela. Esperamos durante um bocado, eu revia a missão mentalmente.
O objectivo era simples, apanhar um tal Ubunto, um traficante que ganhou renome nas favelas, também era conhecida por “imortal”, cuja origem é desconhecida, mas as pessoas locais conheciam-no mais pelas torturas, homicídios e também por ser um viciado em sexo, fornicava tudo o que lhe aparecia à frente, entre outros crimes que estão na sua extensa lista. Um dos seus sonhos era ser um Deus, mas muitos preferiam considera-lo como um demónio ou o filho do Diabo, ganhou uma grande reputação neste último ano, no entanto ainda não estava no topo do crime nas favelas. Anderson disse que este objectivo era dele, não queria que eu disparasse assim que o visse, ele queria captura-lo para ele apodrecer na cadeia, eu estava lá apenas para não aparecerem incómodos. O relatório também ditava que já se estava à procura de este homem à uns meses, assim que conseguimos as provas das testemunhas decidimos finalmente agir, sempre que a BOPE invadia as favelas, ele conseguiu sempre escapar, mudava sempre a sua residência, no entanto a sua legião estava cada vez mais pequena, eram mortos por rivais ou pela própria policia.

Abriram-nos finalmente a porta, o porteiro tinha uma AK-47 ao ombro, algo que não gostei, pelo simples facto de fazer muito barulho e chamar à atenção. Estava escuro, o homem fechou a porta de metal e ficou a guarda-la, as janelas estavam completamente seladas com tábuas de madeira, estavam umas camas espalhadas e um grande cofre ao canto da sala. Umas velas iluminavam as escadas, subimos estas, abrimos a porta do quarto de cima e vimos um homem musculado, com apenas um pequeno gorro na cabeça e mais nada o que me perturbou um bocado, estava sentado num sofá, rodeado por velas e com um machete sobre a mesa que se encontrava próxima do sofá, estavam só dois homens a acompanha-lo, ambos armados com caçadeiras, preocupei-me mais uma vez com o detalhe do barulho. Comecei a ficar com dúvidas, será que conseguia dar cabo de 7 homens, que era inapropriado para as condições que estavam a decorrer. Metemo-nos à frente do Ubunto e os guardas ficaram atrás de nós
– Bom dia Senhor Ubunto, eu sou o Anderson e este é o meu parceiro…
– Passe ao que interessa!
– Vamos ao que interessa! Nós podemos fechar os olhos nas suas acções em alguns pontos.
– Como assim “alguns”? Eu exijo tudo! Custe o que custar! – Ele levantou-se, expondo todo o pacote, parecia um fusco de luz que ia directamente aos olhos, tapei-os com a minha mão.
– Tenha calma senhor Ubunto, pode voltar a sentar-se, vamos discutir isto como pessoas civilizadas!
Anderson continuou a discutir com o homem a dizer coisas como “Talvez ponderemos isto” ou “Vamos tentar fazer isso” o que era muita discussão para uma proposta inexistente, eu dirigi-me a um dos dois guardas que se encostavam à parede.
–Tens lume? – Perguntei-lhe
Ele apontou para as velas, que estavam ao lado do sofá, vi que agarrava só com uma mão na caçadeira, retirei a minha SIG e disparei contra o outro guarda que estava ao lado, acertou na testa do guarda que estava no outro lado da sala, caiu no chão morto. O segundo ao aperceber-se disso tentou agarrar a caçadeira, mas eu acabei também por lhe agarrar a caçadeira e ele disparou para a parede, dei-lhe uma cotovelada e disparei mais uma vez, a bala perfurou o peito trespassando o direito pulmão do rapaz que lentamente tossia sangue, morreu, nem sequer 10 segundos se passaram. Anderson retirou a sua Glock para se juntar à festa e apontou para Ubunto, este que estava tranquilo, sentado no seu sofá.
– Pensam que é a primeira vez que aparece a bofia à minha porta? – Ele riu-se – Vocês estão acabados, duas balas não conseguem deter-me.
Anderson gritava para ele não se mexer ou disparava, ele dizia sempre isso, dava sempre a oportunidade ao contrário de mim. Ele levantou-se e agarrou a machete, Anderson gritou mais alto, enquanto isto se passava eu ouvi paços apressados a subirem nas escadas, esqueci-me que do porteiro que tinha a AK. O outro apressava-se a subir as escadas a gritar um grito de guerra que nunca acabava, assim que ele abriu a porta, fez mira ao Anderson estava pronto para disparar, eu fui a tempo e consegui-lhe agarrar a AK, que disparou contra o tecto até esvaziar o cartucho e empurra-lo contra a parede, sem hesitar disparei-lhe sobre o coração e empurrei-o pelas escadas abaixo.
– Já acabei aqui! – Disse a limpar a testa do suor que a tensão provocou.
– Como se atrevem a matar os meus irmãos! – Gritou ele, parece que aquele tinha sido a gota de água, no entanto continuava a sorrir.

Eu vi que ele não ia desistir, mais valia disparar já, do que esperar para ele disparar a sua fúria. Ele meteu um pé em cima da mesa, elevou a machete e saltou contra Anderson, este que disparou de imediato, enquanto ele estava no ar, contei 3 tiros a irem contra o corpo do mercador da morte, deixou cair a machete. Surpreendentemente caiu sobre os seus próprios pés, mas o seu cadáver acabou por cair nos ombros de Anderson.
– Missão cumprida… – Suspirei após ter assistido a tal resistência humana.
– Ele está morto, por isso foi um sucesso para ti… – Anderson, empurrou o corpo de Ubunto para o lado, deixando-o cair sobre o chão de cimento.

Pensava que tudo acabara bem, virara as minhas costas e dirigi-me à porta que dava passagem para as escadas, ouvi um grito abafado e olhei para trás. Vi o meu parceiro no chão, com um corte nas costas e o mercador a levantar-se, pegando na machete com a mão direita. Vi nos olhos do mercador a nova forma do Diabo e a personificação do mal, ele elevou a sua machete e olhou para mim, o seu próprio sangue escorria sobre o seu peito e o sangue Anderson pela machete. Senti algo que não me sentia há muito tempo, medo e raiva ao mesmo tempo.
– Eu sou o novo Deus.