Chapter 6 – Awakened

Chapter 6 – Awakened

Acho que o meu corpo estava morto mas o meu espírito não, nem o meu cérebro. Era como se eu estivesse acordada mas por dentro. Era como se estivesse presa num corpo com o meu. Mas aquele era o meu corpo, era eu, e sabia que tinha levado um tiro que me matara. Era suposto eu acordar? Acho que a minha consciência tinha acordado primeiro que eu, em si. Conseguia lembrar-me de cada chicoteada, de cada corte feito com uma faca e de cada mililitro de álcool dentro das minhas feridas. Lembrava-me também de tudo o que tinha feito para trás, de ser uma cabra com várias pessoas, de as magoar e não me importar, de curtir com milhões de gajos enquanto tinha namorado, de desrespeitar os meus pais, de beber tanto até cair para o lado, de nunca dizer não a um desafio, de simplesmente ser eu. Eu era aquela pessoa e cada vez gostava mais. Uma vez li num livro que quando uma pessoa é transformada em vampiro que os seus sentimentos ao início ficam cada vez mais fortes, ou seja, se tu gostas de uma pessoa, vais achar e sentir que a amas, mas é simplesmente mentira e tu não consegues ver isso. Ficam duplicados. Por um lado queria isso na minha vida mas por outro não. Como e que hei-de explicar… Queria que isso acontecesse só para o mal e não para o bem.
Não sei quanto tempo é que passei sem ir a escola, ou quanto tempo fiquei sem aparecer em casa. Não queria preocupar os outros. Eu a dizer que não queria preocupar os outros? AHAHA. E o Miguel? Ele realmente se preocupava comigo, mas eu nunca quis saber. Só andava com ele porque era rico, giro e popular. Temo que nunca tenha sentido nada por ele. Acho que nem sei realmente o que é o amor. Mas agora não vou armar-me em melodramática porque isso não faz o meu estilo, nunca fez.
Cada vez gostava mais de ser eu. Toda a gente diz que por trás de uma cabra como eu está um ser frágil. Talvez tenham razão. Tenho um segredo… Mas por enquanto não o posso revelar. Não, não falo desta cena toda de vampirismo. É outra coisa, uma coisa mais preocupante, que ninguém sabe. Que podia estragar-me a vida, Por isso é que o enterrei bem fundo na minha memória. Talvez um dia eu tenha a coragem de o contar a alguém, talvez… A cada segundo que passa sinto-me mais… acordada? Mais desperta…

Quando despertei, quando abri os olhos, senti-me como se estivesse a sufocar. Como se não houvesse oxigénio naquele local. Elevei o meu tronco e comecei a tentar respirar desalmadamente. Aos poucos e poucos ia conseguindo inspirar algum ar até me acalmar.
- Seja bem-vinda, minha querida. – Eu estava incontrolável e assustada ao mesmo tempo. Olhei para o rosto do homem e lembrei-me de tudo novamente. Ele estava sentado numa cadeira com a perna cruzada. Se o ódio que sentia antes era bastante, então agora ainda estava pior. Queria mata-lo. Mas comecei a sentir uma dor nos dentes. Gritei e levei as mãos lá.
- O que é que me está acontecer? – Perguntei entre gritos de dor.
- Os teus dentes estão a desenvolver-se. Vais ser capaz de te alimentar sozinha. – Falou calmamente como se estivesse a apreciar o momento. Só me apetecia rasgar-lhe a garganta como um lobo.
Quando as dores já eram menores, toquei nos meus incisivos. Eles estavam maiores e mais bicudos. Mais fortes também.
- Alimenta-te. – Há medida que foi dizendo esta palavra os guardas entraram com um rapaz assustado, bastante assustado.
- Não. – Resmunguei determinada. Eu não ia matar um rapaz, por amor a deus! – Não vou matar o rapaz.
- ALIMENTA-TE! – Gritou enraivecido. Aquela raiva chocou com a minha e eu num ápice levantei-me e em segundos já estava perto dele com a minha mão na garganta dele e com os meus dentes à mostra.
Ele esboçou um meio-sorriso que me deixou mais irritada ainda. – Surpreendente. – O seu rosto mostrava espanto.
- O que?! – Perguntei. Ele fez sinal para que os guardas saíssem de trás de mim e se afastassem.
- Ela é mesmo uma criação surpreendente. Nunca antes visto. – Comentou olhando para mim mas falando para os outros dois.
- PARA DE FALAR COMO SE EU NÃO ESTIVESSE AQUI. – Gritei apertando-lhe mais a garganta, mas ele com a outra mão empurrou-me e eu voei até a parede fria cinzenta.
- Quietinha ai. – Resmungou. – Vocês viram? Ela tem uma capacidade a mais que nós. Ela é uma rainha. – Sorriu malicioso e andando lentamente.
Um dos guardas cortou o pulso ao rapaz a mando do homem, quem eu diria ser talvez o chefe dos vampiros dali. Ri-me. Vampiros. Acho que estava a dar em doida, mas é. O cheiro do seu sangue veio como um aroma delicioso ate mim. Eu estava insaciada. Eu queria alimentar-me mas não queria matar. O sangue do jovem cada vez me chamava mais, muito mais… Levantei-me e em segundos já estava perto dele. Olhei para ele. Ele chorava e estava em estado de choque. Mas eu, nada podia fazer contra o seu sangue. Era como uma obsessão que eu já tinha há muito tempo. Era como chocolate.
Peguei no pulso do rapaz e observei o sangue a escorrer. Ele tremia mas eu não me importava. Lambi o sangue e deixei aquela gota explodir na minha boca. O sabor era mesmo delicioso. Levei a minha boca ao pulso dele e bebi mais e mais… até… afastei-me do corpo morto.
- O que é que eu fiz?! – Perguntei assustada.
- Tu só mataste um rapaz inofensivo. – Riu-se maleficamente.
Não, não, não! Isto estava tudo errado. Eu não queria nada daquilo, N-A-D-A.
- Onde está o Erik? – Olho em volta, lembrando-me dele.
- Ele está alimentar-se. Mais de quatro raparigas já morreram. Ele não consegue parar. – Os cortes do meu corpo, estavam sarados, mas não totalmente.
Com rapidez fui até à porta e sai. Ouvi o homem ordenar irem atrás de mim.
- Erik! Erik! – Chamei preocupada.
Vi uns olhos vermelhos no meio da floresta. Ainda não era de dia, mas já havia algumas claridades. Aquele olhar era intenso. Quando se aproximou, rosnou-me como se eu fosse uma estranha.
- Oh, Tatia. – Limpou a boca e aproximou-se. – Como é que te sentes?
- Não queria nada disto. Diz-me uma coisa. Tu também eras popular na escola onde andavas? – Perguntei intrigada olhando para ele.
- Sim.
- E tu achavas-te forte e poderoso? Bateste em alguém?
Ele apenas assentiu.
- Foi por isso que este filho da mãe nos transformou nesta coisa horrível, porque nós somos superiores aos outros. Porque servimos para ser vamp –
- piros. – Completou. – Mas será essa a verdadeira razão?
Olhamos um para o outro. Eu não respondi.
- Também consegues andar rápido como eu?
- Não. Tu consegues?
- Sim, sou diferente. – Ouvi as vozes dos guardas atrás de nós. – Vamos bazar daqui para fora. – Peguei na mão dele e fugimos a correr entre a floresta.