Chapter 4 - Bitch please, I'm Tatia Bladinova

Hoje era dia onze, e eram oito horas da noite. Cada vez me sentia mais nervosa e ansiosa. Liguei o portátil e entrei no chat. À medida que o meu email foi aparecendo online para todos, as janelas começaram a abrir. Não estava com a mínima paciência para responder a todos por isso meti-me offline. Procurei na lista a Bianca. Bianca… Bianca... Lá estava ela! Meti conversa.
Perfeitinha ♥ diz: Estou-me a sentir nervosa.
Bianca diz: Porque?
Perfeitinha ♥ diz: Não ias acreditar se te contasse. :/
Bianca diz: Tenta, desafio-te.
Perfeitinha ♥diz: Tenho andado a receber cartões e presentes de alguém desconhecido. E quer que eu me encontre que ele/a amanhã às três horas.
Bianca diz: Queres mesmo a minha opinião?
Perfeitinha ♥ diz: Claro!!! :]
Bianca diz: Se eu fosse a ti não me metia nessas tretas, tipo, até pode ser algum rapaz, mas não tens certezas de nada!!
Perfeitinha ♥ diz: Mas ninguém se ia dar ao trabalho de me oferecer um vestido e uma jóia caríssima!! É um fio de prata com um rubi, B.
Bianca diz: Também tens razão, mas mesmo assim… Então olha, vai! Não tens nada a perder pois não??? : D És a Tatia Bladinova! Boa sorte!
Perfeitinha ♥ diz: Obrigado, до утре!1

Fechei a tampa do computador e ouvi baterem à porta. Virei-me e gritei para entrarem. A minha mãe entrou com o cão ao colo e disse:
- Vamos jantar. A empregada já preparou tudo. Aquele casal nosso amigo já chegou. – Sorriu maravilhada. Olha que bom para ela!
- E o filho desta vez veio? É desta vez que o vou conhecer? – Perguntei com um certo interesse.
- Veio sim. Seria um bom partido para si, Tatia. Ele é rico! É de umas melhores famílias americanas.
- Pooooois. – Respondi-lhe revirando os olhos. – Mãe, perceba, que eu tenho namorado.
- Mas ele não é muito rico, menina! – Resmungou comigo dando festinhas ao cão.
- Como queira, vamos descer. – Levantei-me e desci as escadarias. A minha mãe vinha atrás de mim. Ouvia a queixar-se e virei-me para trás para perguntar o que era. O cão saltou para cima de mim a ladrar e fez-me cair. Mas alguém me segurou. Antes de poder gritar olhei para a cara de quem me tinha segurado. Olhos verdes.
- Tu?! – Perguntei indignada enquanto me afastava dele. A minha mãe deixou-nos a sós, nem se preocupando com o meu estado. – O meu cão não gosta nada de ti.
- Olha a convencida. – Ajeitou o cabelo despenteado ruivo e revirou os olhos.
- Eu não sou convencida. – Dirigi-me irritada até ele para lhe bater, mas quando ia para fazer isso ele segurou-me o braço, ainda fiquei mais irritada. Tentei com o outro mas também o agarrou. Bufei. – Estúpido. Larga-me. – Ele largou-me a rir-se e eu afastei-me.
- Vais acabar por me querer, sabes disso. – Sorriu malicioso e sedutoramente.
Cheguei-me perto dele e disse-lhe ao ouvido. – Serás tu a querer-me primeiro. – Mordisquei-lhe a orelha e afastei-me dirigindo-me para a sala de jantar. Sentei-me à mesa e ele fez o mesmo à minha frente. Por favor, logo à minha frente? Bah.
O jantar foi passado a lançarmos olhares um ao outro. Tanto de agrado como de desafio. Revirei os olhos algumas vezes. Descobri que o nome dele era Erik. Que tinha vindo da América aos cinco anos por isso é que tinha tão boa pronuncia em ambas as línguas. Como sei? A mãe obrigou-o a falar inglês e português. Devia ser para mim.
Que ele era tentador era, mas eu não gosto de ser fácil. Chegou a altura em que a família dele e ele tiveram de se ir embora. Fez-me um sorriso mau e eu apenas revirei os olhos. Disse aos meus pais que tinha sono – o que era mentira – e fui para o quarto. Mandei-me para a cama enterrando a minha cara nas almofadas. Não tinha nenhuma vontade de dormir porque me sentia ansiosa. Rebolei nada cama mas não valia estar deitada. Ouvi a campainha tocar. Desci a correr para abri-la. Abri a grande e rústica porta de madeira e não vi ninguém a não ser uma caixa do tamanho e da largura de um quadrado com um laço vermelho. Ok, não me digam que aquilo era mais um presente? Peguei na caixa e corri escadas acima para o meu quarto. Sentei-me na cama e abri o cartão:


Abri a caixa rapidamente. Oh meu deus, que sapatos de salto alto mais lindos! Vermelhos brilhantes tal e qual o vestido. Arrepiei-me de pensar de quem seria aquilo tudo. E porque me mandavam a mim. Se calhar era uma brincadeira estúpida do Miguel ou do António.
Mandei-me para a cama a olhar para o tecto. Mas porque não aproveitar o tempo em vez de dormir a fazer outras coisas? Sorri maliciosa. Discoteca, aqui vou eu! Troquei da roupa que tinha para um vestido preto justíssimo cai-cai e minissaia ao mesmo tempo. Calcei uns Louboutin em forma de bota de cano baixo com padrão tigresa e alisei o cabelo. Pintei os olhos com sombra negra e os lábios com batom vermelho. Meti as minhas coisas na mala juntamente com as coisas que me tinham dado para amanhã e desci as escadas.
- Onde é que a menina vai? – Perguntou a minha mãe com o meu pai ao lado. – Você parece uma daquelas raparigas que andam na estrada. – Resmungou levando os braços ao ar.
- Como é que a mãe se atreve a chamar-me uma coisa dessas? Sou só uma adolescente a aproveitar a vida como vocês não aproveitaram. – Quase que gritei indignada. Podia ver a expressão de espanto estampada nos seus rostos.
- Tatiana! – O meu pai gostava de me chamar Tatiana não sei porquê, mas eu não gosto. – Já para o seu quarto. Está proibida de sair hoje.
- Népia, pai. Adeusinho. – Abri a porta e acenei sorrindo desafiando-os. – Tenho uma noite para aproveitar.
Tirei as chaves do carro da mala e carreguei no botão de destrancar o carro. O carro apitou e eu entrei. Eles continuavam a gritar que me deserdavam e mais não sei o quê. Enfim, que paciência.
Liguei o carro e conduzi até à discoteca, parei mais atrás porque o estacionamento estava apinhado. Suspirei.
- A Tatia vai estar em grande hoje. – Disse para mim mesma. Ri-me superior a todos os que se encontravam naquele passeio. Antes de entrar já se ouvia o som da música bastante alta e que fazia mover dezenas de corpos. Paguei a entrada e caminhei para dentro do edifício.
Dezenas de pessoas dançavam sozinhas fazendo abanar e suar os seus corpos, outras estavam ao balcão a beber e a observar a multidão e outros a jogar as cartas. Havia um grupo de três raparigas sentadas numa mesa a jogar as cartas. Dirigi-me lá sorridente.
- Pessoal. – Cumprimentei sentando-me.
- Tatia! Há muito que não te víamos por aqui. Pensei que tinhas desistido. – Comentou a morena dos olhos castanhos.
- Eu? Não! – Ri-me pegando nas minhas sete cartas. – Se adivinhares que carta é esta eu beijo aquele rapaz ali ao fundo, moreno. Se não… Beijas tu Maria. – Rimo-nos histericamente e Maria aceitou o desafio. A minha carta era o Ás de Copas.
- Aposto que é um Ás… - Abanei a carta sem ela poder ver. – Só pode ser um Ás.
- De Copas. – Comentou a gótica.
- Adivinharam, ou vocês são muito boas ou fizeram batota. – Óbvio que tinha sido batota. – Bem, aqui vou eu.
Levantei-me e passando pelas pessoas que dançavam cheguei perto do rapaz. Sorria-me como soubesse o que eu ia fazer. Ele estava sentado por isso meti-me à sua frente e peguei-lhe no rosto e beijei-o. Logo atrás de mim apareceu uma miúda histérica.
- Não voltes a beijar o meu namorado, sua cabra! – Gritava que se fartava.
- Miúda, mas tu sabes quem eu sou? Se não sabes ficas a saber. Chamo-me Tatia Bladinova por isso tem tento na língua. – Sacudi o cabelo e continuei. – E eu sei que sou cabra, mas todos gostam disso. O teu namorado beija bem. Aproveita. – A miúda foi incapaz de dizer algo pois já se notava os seus olhos a lacrimejarem. Ri-me e dirigi-me para o local onde estavam as três raparigas a rirem-se desalmadamente.
- Vocês sabiam que a gaja ia aparecer! – Resmunguei. – Mas deu muita adrenalina, meu deus. Dêem cá mais cinco! – E assim o fizemos e continuamos a rir e a ver a rapariga a chorar e a gritar com o namorado que só olhava para mim.
- Sua destruidora de lares. – Atacou a Maria. Ri-me.
A nossa noite e grande parte da manhã foram passadas assim, a lançar desafios umas às outras até já estarmos sentadas ao colo de rapazes. A discoteca até nos serviu algo para comer.
- Que horas são? – Questionei sentada ao colo de um rapaz loiro com o meu braço rodeando-lhe o pescoço.
- Duas e meia da tarde, querida. – Afirmou o rapaz loiro virando-me o rosto para me beijar. Eu até estava a gostar mas depois lembrei-me que eram horas de me por andar dali para fora e trocar de roupa. Dei-lhe um beijo e deixei o meu número. Sai a correr e entrei no carro. Troquei de roupa sem problemas de quem olhava. E assim estava pronta para o dia de hoje.
Meti o carro a trabalhar e acelerei. Percorri o perímetro escolar e parei atrás da escola, onde estava escrito no cartão. Esperei impacientemente. Estava virada para a mata que estava no lado oposto a escola. Toquei no rubi.
- Bladinova… Tatia Bladinova. – A voz era profunda e masculina. Quando me ia a virar com um sorriso na cara senti uma grande pancada na cabeça e tudo ficou preto. Raios me partam.